O promotor mineiro Rogério Grecco é
um defensor de policiais. Autor de diversos livros que focam no Direito Penal,
apontado como o “mentor de concurso” pelo trabalho realizado como professor em
cursos preparatórios, Grecco é um jurista renomado que tem sua mais nova incursão
com o livro “Atividade Policial - Aspectos Penais, Processuais Penais,
Administrativos e constitucionais”. O olhar do promotor para os policiais não
fica apenas na ótica do Direito, mas ganha também contornos de uma defesa de
admirador.
Confira trechos de sua entrevista
concedida a um veículo de comunicação:
Os policiais hoje causam mais medo do
que segurança na população. O que levou a essa inversão de valores?
A ditadura teve uma influência muito
forte com relação a isso. Havia muito abuso, muito arbítrio e depois da
Constituição de 1988, depois que o Brasil se transformou em uma democracia
começou a haver renovação nos quadros da polícia. Essa renovação tem sido muito
importante, muito útil. Hoje os estudantes que prestam concurso de forma geral
gostam da atividade policial. O único problema que ainda vê na atividade
policial é a questão da remuneração que faz com que as pessoas migrem para
outras profissões. A função policial é muito bonita. Tem havido renovação,
mudança de mentalidade na polícia. Uma polícia que respeita o direito do
cidadão. Mas infelizmente a imagem que ficou foi a antiga, da polícia
truculenta, que gosta de bater nas pessoas. Mas não é assim que a coisa
acontece.
Mas há também os casos de corrupção
dentro da polícia. O senhor credita isso a questão de caráter ou questão de
falta de incentivo para esses profissionais?
Questão de caráter. Sabe por que?
Porque se você for no Congresso Nacional quantos são corruptos? Graças a Deus
que as coisas têm mudado. Mas quantos juízes, quantos desembargadores
envolvidos, quantos ministros envolvidos em problema de corrupção? Agora o
contingente policial é maior, quanto mais gente maior, proporcionalmente, a
corrupção. Não é que exista só na polícia. Em todos os setores tem corrupção.
O tratamento destinado às Polícia
Civil, Militar e Federal é diferente. A Polícia Federal usufrui de uma
estrutura melhor. O senhor tem essa mesma percepção?
Tenho porque a estrutura é diferente.
A estrutura da Polícia Federal é diferente. Quando você lida com a União a
estrutura é sempre melhor. Mas isso está modificando nos Estados. As Polícias
Civil e Militar são o front da batalha. Eles que recebem a primeira vítima, o indiciado,
o primeiro acusado. Acho que a política de remuneração da polícia, a estrutura
principalmente da Civil e Militar, deveria melhorar muito.
A sociedade é injusta com a polícia?
É. Ser policial não é para qualquer
um. Fácil eu ser entrevistado aqui por você, em um hotel, enquanto outras
pessoas estão tomando tiro de fuzil. É difícil a atividade policial. A
sociedade precisa entender que são pessoas diferenciadas, que tem amor pelo que
fazem.
Enveredando agora especificamente
pela lei, como o Direito Penal pode evoluir para coibir efetivamente os crimes?
Não pode. Essa não é nossa
finalidade. É porque as pessoas vendem o peixe errado no Direito Penal. Nosso
problema não é jurídico, nosso problema não é legal, nós temos lei demais,
nossa lei é boa. O que tem que acontecer é o Governo implementar políticas
públicas. Se não houvesse desigualdade social o índice de crimes contra o
patrimônio seria quase nenhum. O Estado polícia tem que vir, mas também o
Estado serviço social. Precisa investir em escola, saúde. Na minha opinião, o
problema do Brasil se chama corrupção. No dia em que houver um combate efetivo
sério a corrupção as coisas vão melhorar mais. Precisa de um combate sério. O
corrupto é um genocida. O corrupto é aquele cara que você está tirando foto
dele nos melhores restaurantes de Natal, mas ele está lesando o erário em
milhões e milhões. É esse cara que não deixa chegar o remédio na farmácia, é
esse cara que não deixa o idoso ter um atendimento digno, esse é o genocida.
Ele é que precisa ser combatido. Se combate esse cara primeiro o resto fica
fácil.